Andarilha de crenças e credos

Como todo bom brasileiro nascido até os anos 2000 eu nasci em família católica não-praticante. Fui batizada, mas ninguém me obrigou a fazer catequese nem nada que viesse depois. Acredito que isso se deva ao fato de que, muito antes desse advento da nova era em que as pessoas hoje se dizem “espiritualistas” e não religiosas, minha bisavó já assim se designava – e tal espírito universalista passou por todas as suas descendentes: ela, minha avó, minha mãe, eu e minha prima mais nova somos todas médiuns em algum grau. 

Até aproximadamente os meus 4 anos, minha mãe era umbandista – e socialmente, isso ainda era um tabu. Meu pai, por exemplo, não gostava. Então ela mantinha seu altar dentro de um dos maleiros do guarda-roupas; se alguém perguntava aonde ela estava indo em determinados dias, ela dizia que ia ao “centro”; me batizou na umbanda sem a presença do meu pai ou de ninguém da família e me levou poucas vezes às sessões.

Eu me lembro das mulheres conversando enquanto vestiam suas roupas brancas no vestiário e da aura de bagunça organizada, familiaridade e excitação. Eu me lembro do homem de olhos fechados que dançava com um capacete de soldado medieval com um enfeite vermelho e uma espada comprida. Eu me lembro da minha mãe sentada no chão cercada de doces e brinquedos, expressão travessa e voz infantilizada. Eu me lembro da Madrinha (a dirigente do lugar), uma senhora negra magrinha e velhinha fumando charuto, passando um incensário pelas pessoas, em outras vezes se jogando no chão usando um boné azul e brincando com um carrinho. E eu me lembro de nunca ter estranhado nada daquilo, me assustado ou pedido para ir embora como às vezes crianças fazem. 

Eu me lembro principalmente do dia em que a minha mãe resolveu que não queria mais aquilo para si. Nós fomos a um parque municipal e ela levou as imagens que ficavam dentro do armário e foi deixando em alguns lugares: a de duas crianças, junto com o cachorrinho de brinquedo, ela deixou em frente a um parquinho. A de um índio ela deixou na entrada de uma trilha. Ela não só deixava as imagens, ela se despedia de cada uma, agradecia, rezava… E foi deixando uma por uma… e eu, acompanhando silenciosamente, fui ficando muito triste e não sabia explicar por quê. Quando ela estava deixando a imagem de um homem com dois machados em cima de uma pedra minhas lágrimas rolaram silenciosas, diferente daquele choro de criança que é barulhento. Ela percebeu, perguntou “O que foi?” e eu não sabia responder, só sentia muita tristeza. Ela então perguntou se eu queria que ela pegasse aquela imagem de volta e eu só acenei que sim com a cabeça. Voltamos para casa com ele, mas depois de algum tempo não o vi mais.

Aos 8 anos eu fui para um Colégio Adventista porque uma tia conseguiu bolsa para mim. Como família, nunca consideramos essa religião – mas nunca tive problema nenhum com as aulas de religião, as orações e os cultos. Eu acreditava em Deus e Jesus, gostava da bíblia e estava bem assim. 

Aos 12 anos saí do Colégio Adventista, comecei a ter sonhos recorrentes com uma mulher branca, ruiva, magra e alta dançando ao redor de uma fogueira. Nessa época, minha mãe conheceu o Kardecismo – e eu gostei muito! Apesar dos anos de colégio adventista, eu sempre achei que reencarnação e comunicação com espíritos eram algo real, só não sabia que isso tinha nome. Aos 14 anos eu comecei a ter sonhos inquietantes, dejavus que me davam taquicardia, e lá fui eu para um tratamento espiritual que “trancou” minha mediunidade (disseram que eu era muito nova para desenvolvê-la).  

Aos 15 anos conheci a Wicca e achei o máximo! Uma religião politeísta (eu amava mitologia), não-dogmática, inclusiva, sem delírios de céu e inferno ou santos e pecadores, ritualística e que me transportava a lugares e épocas que eu tinha certeza de já ter vivido e dos quais sentia imensa saudade. Encontrei sacerdotes maravilhosos que se tornaram grandes amigos sem jamais perder o dom de enxergar através das minhas palavras. Entre idas e vindas por problemas da vida (e das pessoas), lá fiquei por 10 anos. 

Aos 25 eu estava passando por uma bela crise de identidade e meu namorado me convenceu a conhecer a ayahuasca (o pai dele era antropólogo e os dois tomaram numa aldeia indígena). Como a crise estava “braba”, escolhi logo um retiro de 4 dias com diversas plantas de poder em um sítio. E aí, meu amigo… TUDO mudou, para sempre!  

Mas já falei demais para um post só, a partir daqui a coisa fica ainda mais incrível e não tem como falar pouco sobre o que veio depois, vai ficar um texto enorme! Se você quiser saber, terá que acompanhar os próximos posts do Mundo Além para descobrir o que a Madrecita me respondeu quando eu perguntei a ela “por que eu estou aqui?”. 

E o seu despertar espiritual, como aconteceu? Você tem religião, participa dela porque sua família te levou ou você mesmo escolheu seu caminho? Conte-me suas andanças espirituais!


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